quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O dom das línguas



1. Introdução
Neste capítulo serão vistas e
estudadas as três modalidades do
carisma da variedade das línguas que
são: o orar, o falar e o cantar em
línguas. Além disso, serão abordados
os principais aspectos de sua
manifestação e o fundamento bíblico e
doutrinário.
Algumas pessoas pensam e
dizem que o dom das línguas é o menor
e o mais insignificante de todos.
Porém, São Paulo escreve: “Aquele que
fala em línguas não fala aos homens,
senão a Deus: ninguém o entende, pois
fala coisas misteriosas, sob a ação do
espírito” (1 Cor 14,2). Ora, o Espírito
orando no homem será pouca coisa?
“Outrossim, o Espírito vem em auxílio
à nossa fraqueza: porque não sabemos
o que devemos pedir, nem orar como
convém, mas o Espírito mesmo
intercede por nós com gemidos
inefáveis. E aquele que perscruta os
corações sabe o que deseja o Espírito, o
qual intercede pelos santos, segundo
Deus” (Rm 8, 26-27).
Talvez o mais difícil para
algumas pessoas seja o abandono e a
entrega da voz, para que o Espírito ore
com “gemidos inefáveis”. Alguns
precisam renunciar a auto-suficiência
e submeter-se à ação do Espírito
Santo. Mas vale a pena! O gozo inefável
que o mesmo Espírito traz com sua
presença, a paz profunda que só Deus
pode dar, a certeza de que Ele ora da
melhor forma, são benefícios certos e
imprescindíveis para o crescimento
espiritual.
O grande desejo de S. Paulo é: manifestado assim: “De minha parte,
desejaria que todos falásseis em
línguas...” ( 1 Cor 14,5). Esta oração
c o n t é m u m c a m i n h o d e
enriquecimento espiritual, um título
de graça. Na medida em que cresce a
oração, modifica-se a vida pela ação
amorosa e misteriosa de Deus.
No Pentecostes aconteceu a
primeira manifestação do dom das
línguas de que se tem conhecimento.
São Lucas narrou com muito
entusiasmo: “Ficaram todos cheios do
Espírito Santo e começaram a falar em
outras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem” (At
2,4). Depois do Pentecostes, o dom das
línguas difundiu-se também entre
todos os cristãos: “Os fiéis da
circuncisão, que tinham vindo com
Pedro, profundamente se admiraram
vendo que o dom do Espírito Santo era
derramado também sobre os pagãos;
pois eles os ouviam falar em outras
línguas e glorificar a Deus” (At 10,
46). “E quando Paulo lhes impôs as
mãos, o Espírito Santo desceu sobre
eles, e falavam em línguas estranhas.”
(At 19,6)
O dom das línguas é uma oração
feita por meio de sons emitidos,
movidos por inspiração e que o
Espírito Santo lhes dá o sentido. Não
se trata de língua, no sentido que
apresenta a lingüística, porque não há
c o n c e i t o s h uma n o s , me smo
desconhecidos. Consiste em dizer
palavras que não são, propriamente,
2. Conceito
manifestação de um pensamento
formulado pela mente. Usar a língua,
a voz, para expressar ao Senhor os
sentimentos que vêm do Espírito
Santo:
Para se ter uma idéia mais clara
acerca do dom de orar em línguas,
veja-se como ele aparece em algumas
passagens da Sagrada Escritura: At
2,1 -13; 10, 44-48; 1Cor 12, 10; 14,
4.13.18.39. Ressalte-se, ainda, que em
Mc 16,17 ele está relacionado como um
dos milagres que acompanham os que
crem, como uma grande promessa de
Jesus. É um “milagre” porque é
extraordinário, fora do comum da
linguagem humana.
A Igreja indica que a oração em
línguas é, verdadeiramente, ação do
“ Quanto ao formal
deste carisma e ao seu
significado profundo, o
dom das línguas:
- é, em primeiro lugar,
um carisma para glorificar
a Deus (cf. At 2,4. 11; 10, 46);
- é um carisma em
virtude do qual o crente fala
com Deus ao impulso do
Espírito (cf. 1 Cor 14,2.28);
- é um carisma de
oração e de louvor ( cf. 1 Cor
14,14-15);
- é um carisma de
bênção e ação de graça. (cf.
1 Cor 14, 16-17).” ¹
Espírito; é um dom que provém do
Senhor, tem por meta o bem da Igreja e
acha-se a serviço da caridade:
“..São, além disso, as
graças especiais, designadas
também “carismas”,
segundo a palavra grega
empregada por S. Paulo, e
que significa favor, dom
gratuito, benefício. Seja
qual for o seu caráter, às
vezes extraordinário, como
o dom dos milagres ou das
línguas, os carismas se
ordenam à graça santificante
e têm como meta o
bem comum da Igreja.
Acham-se a serviço da
caridade, que edificam a
Igreja.” ²
O dom das línguas é uma oração
que se faz a Deus, é uma forma de
glorificá-lo. Quem ora em línguas não
ora aos homens, mas a Deus (cf. 1 Cor
14, 2); aquele que se abre ao dom das
línguas tem o Espírito Santo orando
nele, por ele e com ele (cf. Rm 8, 26-
27). O Espírito Santo sabe do que o
orante tem necessidade, faz ao Pai o
pedido certo e na hora certa, do jeito
que Deus quer. Por isso pode-se dizer
com fundamento que orar em línguas
é “orar no Espírito”, pois é emprestar
a mente e a voz para que o Espírito
Santo ore. “Assim, ainda que nós não
entendamos os gemidos inefáveis.


(...), Deus sabe o que deseja o Espírito.
Apesar da inteligência não assimilar
nada, de não compreendermos o que
falamos, cantamos ou oramos,
sentimos que algo nos toca
profundamente (...), sentimos que o
mais profundo do nosso ser comunga
de maneira especial com Aquele que
3 nos criou e ao qual pertencemos.”
O dom das línguas aprofunda a
oração e a união com Deus. Trata-se de
uma oração individual, mesmo se
feita em assembléia. “Aquele que fala
em línguas edifica-se a si mesmo” (1
Cor 14,4). Uma ou outra vez, porém,
pode assumir a forma de mensagem à
comunidade; neste caso necessita da
interpretação, como se verá mais
adiante no capítulo quarto. “Segundo
afirmação de 1Cor 14, 4, o dom de
línguas é um carisma que o Espírito
Santo dá para edificação pessoal; no
entanto, esta não exclui a finalidade
comum que têm todos os carismas, a
saber: a edificação mútua, a
construção do Corpo de Cristo (cf. 1
4 Cor 12, 7.27-30) .
O dom das línguas é um dom
para a santificação pessoal. Para orar
em línguas, muitas vezes devem ser
rompidas as barreiras do medo, das
dúvidas, da incredulidade, do respeito
humano, do apego à auto-imagem e à
boa fama, entre outras. Embora não se
compreenda o significado, verifica-se
uma nova dimensão da oração. Poucas
frases bastam para que aquele que
recebe o dom se sinta envolvido pelo
mistério e possuído por um profundo
sentimento de alegria e paz. Desta
forma, a presença de Deus se torna
aconchegante, indiscutível, quase
palpável. O dom das línguas favorece a
manifestação dos demais dons.
Ao orar em línguas, a pessoa não
fica estática, nem entra em transe, mas
continua no pleno domínio de suas
faculdades, sabendo o que está
fazendo, podendo perfeitamente
controlar o tom da voz, para estar em
harmonia com as demais. A pessoa é
livre, podendo começar a terminar
quando quer.
Esta oração não suprime a
oração formal, antes a completa e
enriquece. Ela exige a atitude de
render-se ao Espírito Santo; é como
uma porta baixa pela qual só passa
quem se curva um pouco. É a esta
oração misteriosa, inarticulada, que a
pessoa se une, deixando ao próprio
Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se
graças por um amor que supera todo o
conhecimento.
Há variedade de manifestações
do dom das línguas. Duas delas são:
“Um fenômeno que se deu
sobretudo na comunidade cristã de
Corinto (1 Cor 12, 10; 14, 2-19), mas
também nas de Cesaréia e Éfeso (At 10,
46; 19, 6); não é a mesma coisa que o
“falar outras línguas” (o milagre de
pentecostes), mas consistia nisso que a
pessoa (...) proferia sons ininteligíveis
e palavras sem nexo, que se tornavam
compreensíveis apenas para quem
4. Tipos de oração
em línguas
a. Glossolalia
possuía o carisma da interpretação (1
Cor 14,10) (...) Também o milagre de
Pentecostes pode ser interpretado como
uma manifestação de g. como indica p.
ex., a impressão que causou nos
presentes (At 2, 13) e a citação de Jl 3,
1-5. O próprio S. Pedro identifica os
fenômenos com os de Cesaréia (At 10,
47; 11, 15; 15,8). (...) S. Lucas vê no
milagre um símbolo da universalidade
do evangelho (cf. At 2,5) que se adapta
à natureza de cada um (cf. At. 2, 8).
Talvez tenha considerado como o
inverso da confusão das línguas em
5 Babel.”
É uma oração em língua
desconhecida de quem ora, mas que
existe ou já existiu e ainda é do domínio
humano, como o latim, por exemplo.
Robert DeGrandis diz que “durante
uma reunião de oração em Nova
Orleans, cidade norte-americana,
ouviu uma moça orar em latim, embora
não conhecesse esta língua. Ele
também registra o fato de uma senhora
norte-americana que ao orar em
línguas perto de um padre português,
sem conhecer sua língua, nela fez a
seguinte oração: (Ó Maria, que
ascendeste ao mais alto dos céus,
6 ajuda-nos a conhecer o teu Filho)”.
Quanto à tonalidade, a oração
em línguas normalmente se apresenta
como:
a.L o u v o r – o r a ç ã o
s e q ü e n c i a d a , d e p a l a v r e a d o
freqüente, onde a pessoa fica “
mergulhada” como criança diante de
Deus.
b.J ú b i l o – o r a ç ã o

transbordante, jubilosa e extremamente
alegre, quase interminável e sem pausas;
c.Súplica – oração compassada
e em tonalidade penitencial, que leva a
frutos de contrição;
d.Canto (cf. 1Cor 14,15) – é
também uma espécie de louvor, sendo que
em tonalidade musical.
O dom das línguas tem, portanto,
imp o r t â n c i a f u n d ame n t a l n o
enriquecimento espiritual. Ele contribui
para a renovação da vida da pessoa, na
medida em que se constitui em ação
misteriosa e amorosa de Deus. É possível
indicar alguns benefícios do dom das
línguas:
a.Favorece a intimidade com
Deus, sem necessidade de pensar, formular
preces, mas num abandono confiante,
mergulhar nas profundezas do Espírito.
“Outras vezes, ao começarmos a orar,
também não sabemos como devemos pedir
ou dizer a Deus (...). O Espírito Santo,
através do dom de línguas, vem em nosso
auxílio corrigindo toda esta imperfeição,
7 que existe em nós pelo pecado...”
b.Abre a pessoa para os demais
carismas, porque mantém o espírito em
alerta para o que Deus quer falar ou fazer.
Geralmente a palavra de profecia ou a
interpretação das línguas vêm durante ou
após a oração ou cântico em línguas. Da
mesma forma a palavra de ciência, o dom
da cura e assim por diante.

5. A importância
do dom das línguas


c.Ajuda a orar por determinadas
coisas das quais a pessoa foge de colocar
na presença de Deus, problemas interiores
nos quais prefere não tocar;
d.É também um dom de unidade
entre os cristãos: “Achavam-se então em
Jerusalém judeus piedosos de todas as
nações que há debaixo do céu. Ouvindo
aquele ruído, reuniu-se muita gente e
maravilhava-se de que cada um os ouvia
falar na sua própria língua” (At 2,5-6)
Acima de tudo, o dom das línguas
auxilia no processo de santificação
pessoal, pois submete o espírito ao
Espírito, proporcionando uma oração
certeira e eficaz.
O dom das línguas é para todos os
que creem (cf. Mc 16,17). Pelo modo como
se manifesta, ele pode apresentar-se sem
sentido às mentes mais racionais. Mas na
medida em que se cede ao dom e abre-se o
coração e a mente, as dificuldades vão
desaparecendo e o dom se torna um modo
a mais de como poder rezar.
Também é necessário que o receptor
colabore com o Doador – o Espírito Santo.
A este cabe a moção e a inspiração das
palavras enquanto que àquele, o desejo, a
aceitação e a decisão de orar: abrir a boca,
mover a língua, movimentar os lábios,
produzir sons. Diante deste dom, como dos
outros, a pessoa deve fazer um ato de fé:
ceder à ação do Espírito Santo, pois sob
Sua ação a língua proferirá palavras.

6. Como receber o
dom das línguas
ininteligíveis:

“No dom das línguas, você solta os
sons, e o Espírito Santo dá o conteúdo. Esta
é a sua parte. Por isso, a melhor maneira
de orar em línguas é soltar-se no meio dos
outros. Se há um grupo orando em línguas,
faça o mesmo. Não é assim que o
passarinho aprende a voar? Não é assim
que aprendemos a nadar? Há muito tempo,
peço a Deus que conceda às pessoas a
efusão do Espírito Santo. De que forma?
Convido a pessoa a orar comigo, da mesma
maneira como estou orando. Começo a
orar; e a pessoa me acompanha. Não se
pode imitar. Cada um deve se soltar; a fim
de deixar que o Espírito Santo ore em si. É
8 algo muito fácil e simples.”
O dom das línguas foi um dom
abundante no início da Igreja. É normal
um católico exercê-lo. Ele traz muitos
frutos para a vida de oração e de
santificação pessoal, favorecendo a
intimidade e a comunhão com Deus.
A oração em línguas pode se
manifestar de várias formas; o mais
importante não é o que se diz e sim o que
há no coração do orante em relação a
Deus. “Ninguém falando sob a ação divina,
pode dizer: 'Jesus seja maldito'; e ninguém
pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a
ação do Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

7. Conclusão

Atenção:
O próximo encarte da Revista Renovação,
dando sequencia a este assunto, tratará
sobre o Carisma da Profecia, Carisma da
Interpretação das Línguas e sobre o dom
Carismático da Ciência.



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